Lágrimas já não ecoam no espaço, não regam a sede das mãos estendidas.
Na canção que embala o obrigado, são ouvidos os beijos das moedas que pingam no bolso.
Nas estradas do acaso, dos cegos e dos que ressonam a noite inteira, só cheiram as pesadas sombras das faces sofridas.

Dos meninos que gemem, poucos são percebidos, quase nenhum ouve a ciranda ou sente o cheiro de uma boa noite.
Dos filhos que nascem, quase nenhum chega a ser criança, quase nenhum sente a alma da adolescência, são adultos antes do sol se pôr.
Das milhares de cartas, poucas são recebidas e menos ainda passam pelo olhar, ouve-se dois ou três toques e a angustia desce na próxima parada.
Se dos doces nascem o feijão ou o pó, não serei eu o juiz, basta-me estender a mão, fazer mais um som, dá uma de bom moço e alimentar minha indignação.
Indignar-se não faz calor, gritar não garante o almoço, posso plantar uma árvore, que esta seja frutífera para saciar a dor dos filhos, filhos esses que nascem sem o direito de ouvir a ciranda e sentir o cheiro de uma boa noite de sono.
Ailton Barros
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