Um dia, em 1977, um garoto magricelo,
de óculos, chegou no Cafofo pedindo dicas de como tocar contrabaixo",
lembra o músico Renio Quintas, 58. "Ele não tinha mais do que 17
anos."
O garoto era Renato Russo. E, de uma
hora para a outra, o pequeno bar de Quincas, da Asa Norte, em Brasília, foi
tomado por adolescentes com "guitarras distorcidas e baixos
descontrolados", como ele costuma descrever.
O Cafofo virou point da
"tchurma" e local de ensaio de bandas como Aborto Elétrico e Plebe
Rude.
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Foto de "Somos Tão Jovens" retrata as bandas Aborto Elétrico (os três à esq.) e Plebe Rude (à dir.) |
"Dava para sentir: algo diferente
estava acontecendo", diz.
Esse "algo" já tinha começado
um pouco antes, quando Brasília, então uma cidade em desenvolvimento, viu a
chegada de LPs de bandas como Sex Pistols e do visual punk da Inglaterra,
trazidos por jovens, filhos de diplomatas e de militares, que viajavam para o
exterior.
Um desses jovens era Helena Resende,
53, que, na época, voltou de Nova York com visual punk, que apresentou ao amigo
Renato Russo.
"Eu gravava fitas cassete dos LPs
que trouxe dos EUA", lembra ela, hoje uma importadora de vinhos.
A irmã mais nova de Helena, Ana, 49,
conta que uma vez, ouvindo Ramones nas alturas, foi interrompida por Philippe
Seabra, da Plebe Rude, que tocou sua campainha para falar sobre a banda.
"Éramos todos amigos. Saíamos de
bicicleta e íamos para a Colina", diz Ana.
A chamada "turma da Colina"
era um grupo que se reunia no bairro de mesmo nome, onde moram professores da
UnB (Universidade de Brasília), para noitadas de bebedeira, violão e conversas,
conduzidas por Russo.
"Renato era muito profundo, mas
brincalhão", afirma Helena. "Tinha um coração enorme, sem meias
verdades."
Ele era também difícil. É famosa a
história de como a banda Aborto Elétrico, formada com Fê Lemos e com o
sul-africano André Pretorius, foi dissolvida pela primeira vez. A cena está
presente em "Somos Tão Jovens".
Irritado com o atraso e a bebedeira de
Renato em um show, Lemos atirou uma baqueta no cantor, que terminou o grupo ali
mesmo.
Russo era o mais velho da "tchurma" e os conflitos eram
naturais. "Renato, no entanto, era muito mais do que rock, ele circulava
por teatro, cinema e artes plásticas. Era parte do eixo de formação cultural da
cidade", diz sua irmã, a cantora Carmem Teresa Manfredini, 50. "Ele
era único."
uol
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