Por Richard A. Friedman*
Para muitos terapeutas, o autoconhecimento como pré-requisito para uma vida feliz é praticamente um artigo de fé. A introspecção, diz o pensamento, pode libertá-lo de suas manias psicológicas e promover o bem-estar.
Pode ser, mas uma experiência recente me fez pensar se o autoconhecimento é mesmo tão bom quanto todos dizem.
Não muito tempo atrás, vi um jovem de trinta e poucos anos triste e angustiado por ter sido deixado pela namorada - pela segunda vez em três anos. Estava claro que seus sintomas eram uma reação à perda de um relacionamento, e que ele não estava clinicamente deprimido.
"Já repassei o assunto muitas vezes na terapia", contou ele. Ele tinha dificuldade em lidar com qualquer separação de namoradas. Se elas iam embora por apenas um final de semana ou se ele estava viajando a trabalho, o resultado era sempre o mesmo: o doloroso estado de depressão e angústia.
O que a terapia havia conseguido era dar a este jovem uma narrativa coerente de sua vida; ela havia desmistificado seus sentimentos, sem grandes progressos para alterá-los.
Seria isso porque seu autoconhecimento era imperfeito ou incompleto? Ou a própria introspecção, independente de quão profunda, teria um valor limitado?
Pesquisadores sabem há anos que pessoas deprimidas têm essa inclinação seletiva da memória para eventos negativos em suas vidas; não é que elas estejam fabricando histórias negativas, e nem se esquecendo das boas. Nesse sentido, suas percepções e visões podem ser tristemente precisas, embora parciais e incompletas. Sua introspecção lhes faz tão bem!
Lembro-me de um paciente que era cronicamente deprimido e insatisfeito. "A vida é um grande empecilho", dizia ele, antes de catalogar uma lista bastante real de problemas sociais e econômicos.
É claro, ele estava certíssimo sobre o perigoso estado da economia, embora fosse rico e não estivesse diretamente ameaçado por ela. Ele era um analista financeiro muito bem-sucedido, mas estava entediado com o trabalho, que, para ele, era mecânico e pessoalmente insatisfatório.
Meu paciente cronicamente deprimido veio me ver recentemente, parecendo excessivamente feliz. Ele tinha largado o emprego e conseguido outro, com salário infinitamente menor, no mundo das artes. Nós começamos a conversar sobre por que ele se sentia tão bem. "Simples", respondeu ele. "Estou fazendo o que gosto".
Percebi, então, que sou muito bom em tratar a tristeza clínica com remédios e terapia, mas que trazer felicidade é algo além. Talvez a felicidade seja um pouco como a autoestima: as duas requerem esforço. Pois, até onde eu sei, é impossível obter uma infusão de qualquer uma delas com um terapeuta.
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* Richard A. Friedman é professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina Weill Cornell, em Manhattan
Certamente a terapia não tem propósito de tornar alguém melhor ou mais feliz essas, são possibilidades da existência humana e vão muito além das técnicas ou do conhecimento que julgamos ter a respeito do homem...
ResponderExcluirvejo que estás se interessando pelo assunto... espero por você para compartilhamos outras coisas mais sobre a complexidade humana, topas ou não topas???
(aguardo a resposta)
bjs
De fato não sei concordo ou discordo das palavras expostas no artigo...Pensei bastante em você quando me deleitava lendo e tentando entender o que se passa ma mente de "médico" e paciente.
ResponderExcluirAinda não entendi. Talvez preciso de terapia!!....rsrsrsrs...
Certamente aceitarei seu convite para dialogarmos mais sobre o assunto.
Abraços