Fotos de viagens e baladas no Facebook, check-ins em
restaurantes da moda no Foursquare e comentários opinativos sobre livros, shows
ou fatos políticos no Twitter. Atualmente, o que mais se encontra nas redes
sociais são pessoas falando de si mesmos, expondo opiniões ou comentando sobre
suas vidas particulares. Muitas vezes, parece que os sites de relacionamento
mudaram o comportamento humano e aquele amigo tem aproveitado as ferramentas da
internet para se promover ou até contar certas vantagens.
Se antigamente algumas pessoas tinham necessidade de fofocar
no portão de casa ou de contar vantagens em eventos sociais, hoje elas têm uma
ferramenta na mão que permite ver tudo de todos e compartilhar tudo com todos.
"A qualidade da relação não muda. A rede social veio apenas para suprir a
necessidade que as pessoas têm de se expressar e se relacionar em um mundo
corrido", comenta Luciana.
Diferente do que se imagina, a psicóloga explica que, até
hoje, a internet não gerou nenhuma mudança no ser humano, ela só é um
facilitador. Portanto, até mesmo aquele colega tímido que quase nunca abria a
boca nas rodas de bate-papo acaba postando mais coisas sobre si mesmo no
Facebook, porque ele achou uma maneira mais fácil de se expressar. Isso quer
dizer que a vontade de compartilhar momentos ou expor opiniões é inerente ao
ser humano, mas se potencializa na internet por se tratar de um canal mais
simples e, aparentemente, seguro.
De acordo com Luciana, existe uma linha da psicologia,
desenvolvida por Carl Gustav Jung, que sugere existir uma espécie de
"máscara social" em que as pessoas mostram apenas o lado da
personalidade que lhe é solicitado naquele momento. Em uma reunião de trabalho,
por exemplo, o indivíduo vai expor parte de suas opiniões, agindo conforme as
tradições e convenções sociais. Já no mundo virtual, isso muda de figura, pois
não há uma "máscara social" correta para aquela situação e ele acaba
mostrando até seu lado mais reprimido. "Muitas vezes você nem tem
consciência disso, mas tudo o que é publicado nas redes sociais transparece sua
personalidade", diz. "Na internet nos sentimos seguros e protegidos
e, portanto, não achamos que seremos tão julgados", completa.
Essa "falsa segurança" ocorre, segundo Luciana,
porque existe um período de latência entre escrever e falar. Nas redes sociais
existe mais tempo para se pensar no que será escrito, enquanto que na vida real
as respostas devem ser imediatas. Com mais tempo para refletir, há mais
segurança nas frases postadas e menos medo do julgamento alheio. Além disso,
qualquer crítica pode ser facilmente ignorada ao desligar o computador, apagar
uma mensagem ou bloquear uma pessoa.
No entanto, nem todos concordam inteiramente com essa
teoria. A estudante de Relações Públicas Ayrin Vishnevsky, que está sempre
conectada ao Facebook, acredita que mais do que segurança, os sites de
relacionamento oferecem uma possibilidade única: compartilhar ideias e
conteúdos com um número maior de pessoas. "Na vida real eu não tenho a
chance de falar com todos os meus amigos o tempo todo. No Facebook eu tenho
essa oportunidade e, por isso, acabo usando com bastante frequência",
comenta. "Eu acredito que, para as pessoas mais tímidas, as redes sociais
realmente parecem um ambiente mais seguro para se expressar, mas para pessoas
mais extrovertidas na vida real, ela é apenas um canal com maior
abrangência", conclui.
A psicóloga Luciana explica que existem comportamentos
excessivos nas redes sociais que se caracterizam mais como carência do que
egocentrismo. Muitas vezes o uso exagerado das redes sociais, especialmente
para expressar detalhes íntimos demais ou para postar fotos constrangedoras, é
categorizado como mau uso da internet e pode estar ligado ao vício.
Sobre o vício, Luciana comenta que as pessoas que se
prejudicam no trabalho ou nos estudos por causa das redes sociais podem ser
consideradas viciadas. "Aquele que deixa de fazer coisas e estar entre
amigos e família para permanecer conectado também tem maus hábitos na
rede", afirma. No geral, as pessoas que sabem dosar a freqüência de acesso
e fazem um bom uso das redes são seres humanos normais que estão apenas
aproveitando esses recursos tecnológicos para se expressar.
"O problema não é a ferramenta. É o uso que fazemos
dela", conclui.
Olhar Digital.
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